Era uma vez… uma menina muito sonhadora, os seus olhos eram claros como a sua alma pura e neles, o seu carácter resplandecia. Era inteligente, determinada e activa, mas também muito dispersa, distraída e ingénua. O seu nome era Maria e via sempre o lado bom das pessoas, nunca via o seu lado obscuro e pérfido. Era por isso que o povo a chamava “Maria Bonita”.
Maria, não tinha pai nem mãe. Os seus pais tinham falecido num acidente de viação. Desde então, vivia desde os seus 2 anos de idade com sua tia-avó Felismina, que a tratava com muito amor. Todas as noites quando deitava a menina para dormir, contava-lhe uma história e todas começavam sempre com o célebre “Era uma vez…”, a personagem principal era sempre uma menina, ou uma mulher forte e corajosa que vencia as adversidades da vida com a Fé em Deus e no fim, todas as histórias terminavam com um “…e viveu feliz para sempre, lutando pelos seus sonhos abençoada por Deus.” A sexagenária e viúva, queria que a menina crescesse forte e corajosa, mas que nunca deixasse de acreditar e nem perdesse a Fé em Deus. Ela acreditava que um dia este ensinamento lhe seria útil, principalmente quando lhe faltasse. Era por isso que lhe contava aquelas histórias, de modo a prepará-la para o futuro.
Certa manhã, Maria entra na cozinha com seu ar angelical e diz para Felismina:
─ Avó Mina, hoje tive um sonho muito bonito ─ disse com seu olhar sonhador.
─ Ah, sim, Amor? O que sonhaste? ─ Perguntou Felismina, encantada com a menina.
─ Sonhei que estava num barco muito grande, daqueles que as pessoas passeiam e viajam para longe, sabes quais são Avó?
─ Sei sim, Amor. Era um cruzeiro?
─ Sim, sim, acho que era um barco desses porque tinha piscina!
─ Então e depois, o que aconteceu a seguir?
─ Depois, apareceu Jesus.
─ Apareceu Jesus! Que bom, Amor e Ele falou contigo?
─ Falou, sim, Avó.
─ E o que é que Ele te disse?
─ Disse-me que vai correr tudo bem, depois abraçou-me e acordei.
Ao dizer isto, o seu rosto iluminou-se e uma luz dourada envolveu todo o corpo da menina. Nesse momento, Felismina percebeu que estava algo para acontecer… Seguidamente, a menina saiu lá para fora para brincar. Ela sabia também que Maria era uma criança diferente de todas as outras, desde o primeiro momento que a vira e a pegara ao colo, ela soube-o. E de facto, assim era.
Felismina, ficou preocupada com aquele sonho que Maria tinha tido e durante meses pensou naquilo. Receava que tivesse na hora de partir e tivesse que deixar a menina sozinha, sem ninguém. O que seria dela com apenas 7 anos? Estava com 70 anos e sabia que a qualquer momento poderia partir. Deus chamá-la-ia. No entanto, nada de mal lhe aconteceu nos meses seguintes e ela acabou por esquecer o sonho.
Dez anos passaram e Maria tornou-se numa jovem mulher muito bonita. Não era muito alta, tinha cabelos castanhos dourados aos caracóis e o corpo bem delineado. Era responsável, corajosa, generosa e ajudava toda a gente. O povo gostava dela, sobretudo os homens que a olhavam com malícia mas ela, além de não estar interessada neles, também não percebia o sentido das suas intenções.
Entretanto uma sucessão de acontecimentos bastante perturbadores, desabaram sobre Maria, como uma autêntica bola de neve que tomou proporções devastadoras transformando-se numa enorme avalanche. Eram chegados novos momentos de provações para Maria, não só a nível familiar, como a nível profissional e económico. Tudo começou num dia frio de Janeiro, ao chegar a casa numa certa tarde a tristeza abateu-se sobre ela, quando encontrou morta Felismina, sentada no sofá da sala. Tinha falecido com um enfarte fulminante.
Dias depois a fábrica de calçado onde Maria trabalhava abriu falência, devido à recessão que Portugal atravessava e portanto, juntamente com centenas de trabalhadores foi despedida. Sem trabalho e sem dinheiro, não tardou que Maria perdesse a casa onde morava há quase 15 anos.
Como haveria ela de sobreviver, agora sozinha sem a “Avó Mina” que tanto amava, sem casa, sem trabalho e sem dinheiro?
Uma vizinha acolhera-a em sua casa por algum tempo, até que conseguisse orientar a vida. Porém, os seus tenros 17 anos e a sua pouca instrução literária, dificultavam para que consiga encontrar um emprego decente. As propostas que recebia eram para trabalhar em casas noturnas com fama duvidosa e isto, Maria tentava a todo o custo resistir mas era cada vez mais difícil…
Apesar de ter esperança e fé, ela era uma pessoa optimista, mas começava a sentir-se deprimida e desmoralizada. Não sabia o que fazer. Dois meses haviam passado e nada de emprego. Até que numa noite, Maria teve um sonho e uma voz sussurrou-lhe ao ouvido para que fosse à estação de comboios, apanhasse o comboio para norte e depois o barco grande com o desenho de uma sereia azul. A seguir, a voz disse-lhe: “Confia, vai tudo correr bem”.
Maria acordou e sem pensar, fez o que lhe foi dito no sonho. Ao chegar à estação de comboios, encontrou caído no chão um bilhete. Ela apanhou-o e fez a viagem, o destino era o Porto. “Obrigada, Senhor.”, agradeceu em pensamento a Deus e adormeceu profundamente. Só acordou, ao chegar ao seu destino, acordada pelo revisor.
A sorte de Maria continuou, ao chegar ao cais localizou imediatamente o barco do sonho. Chamava-se “Sereia Azul dos 7 Mares” e era um cruzeiro. À socapa, conseguiu entrar no barco e fez a viagem clandestinamente. De noite, esgueirava-se cautelosamente em busca de comida. Umas vezes tinha sorte, outras não.
Maria não soube ao certo quanto tempo durou a viagem até que o barco atracasse para fazer escala, mas mal ele parou ela decidiu sair e respirar ar puro, conhecendo aquele novo país. Porém, perdeu-se na cidade desconhecida e o cruzeiro prosseguiu viagem deixando-a ali… Desta vez, Maria não aguentou mais e chorou desesperada. Estava no Brasil, tão longe de casa…
No entanto, do lado de lá da estrada à porta do restaurante Flor de Maracujá, o Sr. Marcelo Stefano observava a jovem do outro lado da rua. Limpou as mãos ao avental e foi ter com a moça, queria ajudá-la se ela permitisse. E realmente Maria aceitou a ajuda do Sr. Marcelo que não só lhe deu guarida, como trabalho na cozinha.
Dado o facto de fazer doces muito bem, Maria começou a fazer as sobremesas do restaurante, usando algumas receitas que a sua tia-avó lhe ensinara. Os seus doces tornaram-se um sucesso e então, Maria teve a brilhante ideia de criar uma receita nova para um bolo de chocolate.
Subitamente, um cliente habitual e muito importante, chamou o empregado e pediu para chamar a pessoa que havia confecionado aquele bolo de chocolate. Preocupado, o gerente foi falar com o cliente:
─ Boa tarde, Sr. Silva.
─ Boa tarde, foi o senhor que fez este bolo de chocolate?
─ Na verdade, não. Não fui eu… Mas… está tudo bem?
─ Sim, está. Poderia falar com a pessoa que fez o bolo?
─ Se houver algum problema…, eu posso resolver…
─ Ouça, já falei: não tem problema nenhum! Só quero falar com quem fez o bolo! Entendeu? Por favor.
─ Com licença, vou chamar então… ─ disse o gerente aflito e foi chamar Maria, que imediatamente foi com o gerente falar com o Sr. Silva.
─ Sr. Silva, por gentileza, esta é Maria. Foi ela quem fez o bolo.
─ Muito prazer, Maria ─ respondeu Roberto da Silva.
─ Boa tarde, Sr. Silva. Espero que a sobremesa esteja do seu agrado… ─ respondeu Maria, nervosa e baixando timidamente os olhos.
─ Está óptimo, chamei-a aqui porque quero parabenizá-la pelo delicioso bolo! Ô trocyn bão, que gostosura de bolo.
Seis meses depois, os bombons de chocolate da marca “Ô Trocyn Bão” era um estrondoso sucesso! A vida de Maria deu uma volta de 180º, graças à sua deliciosa e original receita de chocolate. Abriu uma fábrica de chocolate, que recebia encomendas do mundo inteiro.
Maria e Roberto casaram, vivendo felizes para sempre com a sua pequenina e linda filha, Mina.
Fim
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Este conto faz parte da Gincana Virtual, do blog
Ô Trocyn Bão, organizada pelo amigo Thiago. Visitem o blog em
www.riosul2012.com, leiam as participações e votem em qual gostarem mais.
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Obrigada.
Abraço a todos,
Cris Henriques