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Foto de: Cris Henriques, Docas de Alcântara - Lisboa, Portugal |
Sinceramente, ela não entendia o
significado daquele silêncio súbito. Por mais voltas que desse à cabeça, não
conseguia compreender. Não depois da última noite, em que os seus corpos se
uniram num misto de paixão, desejo e ardor.
No entanto, não era apenas sexo. Não,
havia ali algo mais. Uma coisa mais profunda, era amor também e ela sabia-o.
Sabia-o pelos beijos, pelo olhar quente que lhe era retribuído com a mesma
intensidade. Mais do que isso, ela sentia-o.
Que noite louca, o inesperado acontecera.
As saudades tinham derrubado barreiras, ultrapassado obstáculos e o amor
vencera.
Bocas que se beijavam, corpos que se
envolviam num tango apaixonado, ardente e intenso. Frêmito do seu corpo no
dela, a urgência de consumir a paixão e assim uniram-se em apenas um ser,
matando os Egos.
Num enlace de braços e pernas adormeceram,
com um sorriso de alegria e felicidade. Sonho realizado.
Mas ao raiar da aurora, as sombras
desvanecem-se e a noite dá lugar ao dia. Acorda com o brilho do sol nos seus
olhos e a brisa fresca da manhã, provocando um arrepio no seu corpo. Abre os
olhos meio incomodada, encontrando-se sozinha. Outra vez...
Uma sms chega ao seu telemóvel dizendo:
"Nas Docas de Alcântara, às 18h53. Amo-te. Para sempre." Ela sorri,
feliz.
Nas Docas de Alcântara, ela chega à hora
marcada. Como aquelas 8h custaram a passar! A ansiedade não a deixara sossegada
nem por um minuto, o dia no trabalho não lhe tinha rendido nada. Estava
eufórica, dispersa e com um brilho diferente no olhar. Assim, notaram Artur e
Gabriela.
- Estás diferente! - Disse Artur,
surpreso.
- É verdade, mais bem-humorada! - Notou
Gabriela.
- Humm, há mouro na costa! - Tentou
adivinhar Artur, mas ela apenas limitou-se a sorrir e não satisfez a
curiosidade dos colegas.
Nas docas passeava, observando a paisagem.
O Cristo Rei, ao fundo na outra margem como que abençoando o seu amor. Estava
frio, o sol de inverno desaparecera no horizonte. Entrou no restaurante e
procurou a mesa onde jantavam, sempre que se encontravam. Este lugar era
especial.
Pediu um chá quentinho e esperou, atenta
ao telemóvel que depositou sobre a mesa, não fosse este tocar e ela não ouvir.
Bebericou o chá devagar, toda esperançada. Olhou as horas e passavam 30
minutos, após a hora marcada. "Atrasou-se no trânsito.", pensou já
menos animada e meio amedrontada com a possibilidade de ter levado uma tampa.
Para afastar os maus pensamentos, ligou o Facebook no smartphone para se
inteirar das publicações dos amigos e divertir-se. Ao menos, estaria distraída
e não daria lugar ao pessimismo. Porém, nas publicações recentes havia uma foto
que lhe chamou a atenção imediatamente. Um anel de noivado com alguns
comentários de felicitações de amigos e o "SIM", escrito em letras
maiúsculas, da pessoa amada, por quem ela esperava havia agora uma hora.
Uma lágrima caiu, rolando pelo seu rosto
abaixo. Eis o motivo do atraso e o porquê do silêncio. Limpou as lágrimas do
rosto, ligou para a pessoa amada e a chamada foi directamente para a caixa
postal. Telefone desligado. Desligou. Estavam juntos. Pagou a conta e
desiludida, de coração dilacerado saiu pela imensidão da noite em direcção ao
Tejo desaparecendo no nevoeiro.
FIM
Cris Henriques
Oi, Cris, como vai? Ai, achei o final muito triste... já sofri desilusão e é uma dor muito incômoda, que nada preenche. Muito bem escrito, mas sou daqueles que prefere sempre o final feliz. ;) Um abraço!
ResponderEliminarOlá, Bia!
EliminarMuito obrigada pela tua visita e carinho.
Fico feliz por teres gostado da história, com excepção do final. A maioria das pessoas, já teve em suas vidas uma desilusão amorosa e quem amou, sabe como foi difícil ultrapassar e esquecer esse momento doloroso.
Nem sempre existem finais felizes na vida real.
Beijinhos
Que triste,Cris! O cenário do nevoeiro é bem apropriado para o desfecho!
ResponderEliminarAbraço!
Sonia
Olá, Sónia!
EliminarObrigada pela tua companhia no blogue e, no nevoeiro. ;)
Beijos
Cris,
ResponderEliminarHá amores que são sentidos, apesar da traição, apesar da distância...
A tristeza é a marca de que o sentimento é real...
Gostei muito do teu conto!
Beijinhos!
Olá, Dulce.
EliminarMinha amiga, infelizmente a vida está cheia de histórias como esta...
Obrigada por estares aqui.
Beijinhos
Lindo conto, com a intensidade das névoas...beijos,chica
ResponderEliminarOlá, amiga Chica.
EliminarMuito obrigada sempre pelo carinho e gentileza.
Beijos
Belíssimo conto, Cris! Cheguei a sentir o assoprar fresquinho da brisa em meu ombro... a realidade crua faz da mocinha um ser arredio, desconfiado? Talvez supere e encontra alguém a sério.
ResponderEliminarUm abraço brasileiro.
Olá Cristina.
EliminarMuito obrigada.
A mocinha, era inocente, apaixonada e por tanto amar entregou-se de corpo e alma...
Não é assim, quando amamos perdidamente?
Beijos ;)
Ah, esse texto é seu! Li em outro blog, não lembro o nome agora, e fiquei maravilhado muito bem escrito. Comovente historia de amor. Fala de encontros e desencontros, lindamente escrita, inspiradíssima! É como diz o poeta brasileiro Vinicius de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros na vida". Gostei, Cris!
ResponderEliminarhttp://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/
Olá Fábio!
EliminarSê bem-vindo ao meu humilde refúgio, onde reina o Amor.
Obrigada pelo carinho.
Também gostei muito da tua escrita. Tentarei visitar-te brevemente.
Beijos
Depois das lágrimas da chuva o sol rasgará o chumbo das núvens e voltará a brilhar. O desespero e a tristeza são dores do crescimento, e nós nunca paramos de crescer.
ResponderEliminarBeijos Chris
Olá M. D.
EliminarTer paixões, depois desilusões faz parte da experiência que é viver. É isto que nos faz amadurecer e ser pessoas melhores.
Obrigada pela visita e carinho.
Beijos