O Segredo de Lisa Miller

Imagem do blog Café Entre Amigos

Chamava-se Lisa Miller e todas as pessoas gostavam dela, pois ela era uma pessoa maravilhosa e de trato doce. Tinha uns grandes e expressivos olhos azuis, claros e límpidos como um lago na Escandinávia, que transmitiam ternura e serenidade. Lisa, não era uma mulher grande, mas sim uma grande mulher. Era pequena de altura, mas grande de generosidade e tinha um coração puro como o de uma criança.

No entanto, quem era Lisa Miller?

Ninguém sabia responder concretamente a esta pergunta. Não se sabia de onde vinha ao certo, Lisa aparecera simplesmente ali. Apesar de falar fluentemente português, as pessoas acreditavam que ela fosse inglesa. Não se sabia bem se pensavam isso devido ao seu nome, ou se pelo seu sotaque ser diferente… Porém, era uma poliglota nata! Falava inglês, francês, português, espanhol, italiano, alemão, ucraniano, chinês, etc., etc. Mas como em tudo, ninguém sabia quantos idiomas ela sabia falar. 

Lisa possuía um temperamento dócil e sociável, embora tímido, reservado. Ela nunca falava de si, nem da sua família. Certa vez, um rapaz que tinha fama de ser mais ousado e atrevido, perguntara-lhe sobre os pais, ao que ela lhe respondeu com um sorriso dizendo apenas sentir saudades deles. A conversa ficara por ali, pois uma enfermeira chamara Lisa para a ajudar a levar um paciente para o quarto e nunca mais se tocara no assunto.

Essencialmente, Lisa preferia fazer trabalho de voluntariado. Fazia-o numa clínica de doentes seropositivos, duas vezes por semana, mas também noutros locais como: o hospital de oncologia, na parte dos doentes em fase terminal, durante algumas horas; num centro de apoio e de ajuda na recuperação de toxicodependentes, no apoio às vítimas de violência doméstica, etc. E por ocasião do Natal, ainda encontrava disponibilidade para também fazer voluntariado No Banco Alimentar, em Portugal, onde vivia. Lisa Miller, não tinha mãos a medir nem tempo a perder. Gostava de confortar, de consolar com as suas palavras ternas quem se encontrava nas “ruas da amargura”.

Estava sempre pronta para fazer o Bem, parecia um anjo. De facto, a sua vida era um grande mistério… De segunda a sábado, andava por todo lado a fazer voluntariado a qualquer hora do dia, mesmo de noite. Mas a partir da meia-noite e um minuto, de sábado para domingo, Lisa desaparecia de vista. Para onde ela ia?

Ninguém sabia e nem se conseguia contactá-la durante o domingo inteiro, ficava totalmente incomunicável. O telemóvel estava sempre como que desligado. No início, as pessoas fazia perguntas, às quais nunca tinham uma resposta. Lisa, apenas sorria e as perguntas ficavam por responder. Depois, deixaram-se disso.

Certo dia, uma doente entrou fase terminal e portanto, restavam-lhe poucas as horas de vida. O vírus da Sida, ceifava o escaço fluido vital de Maria da Graça. À volta da sua cama, Espíritos de Luz lutavam árdua e incansavelmente para que os espíritos das trevas não levassem consigo aquela alma atormentada. Ainda não era hora dela partir, mas o desespero e a solidão provocada pela obsessão dos espíritos inferiores, tiraram-lhe o desejo de viver. Esta era a eterna Guerra do Bem e do Mal. Então, eis que Lisa Miller aparece no quarto. Ela fecha a porta e imediatamente, o seu corpo fica iluminado de uma Luz intensa e brilhante, de um tom azul indescritível! 

— Bem-vinda, companheira! Ajuda-nos com a Maria da Graça. — Pediu um dos Espíritos de Luz, que a todo o custo tentava tratar da alma da paciente moribunda.

Lisa Miller, não perdeu mais tempo. Colocou as suas mãos sobre o coração de Maria da Graça e começou a entoar, primeiramente um cântico, depois rezou uma oração de cura em esperanto, implorando pela intervenção Divina de Deus, o Senhor dos Justos, O Omnipotente e Bom. Então, desceu sobre a cabeça de Lisa uma Luz Dourada que cobriu o seu corpo energizando-o e, essa mesma Luz, fluiu das suas mãos para o corpo de Maria da Graça que estava quase sem vida, energia essa que o preencheu com todas as cores e tonalidades do arco-íris.

Quinze minutos depois, deu-se uma explosão de Luz Azul e os espíritos inferiores desapareceram rendidos, sendo levados pelos Espíritos Superiores. O Bem vencera mais uma vez e Maria da Graça, recuperou miraculosamente trinta minutos depois.

— Oh, Lisa, que bom que estás aqui. — Disse sorrindo ao encontrar Lisa, que agora lhe segurava as mãos.

— Descansa, vá. Está tudo bem.

— Tive um sonho tão estranho… Sonhei com anjos e demónios…, tu também eras um ser especial, uma espécie de anjo, parece… Não sei explicar…

— Schhh, acalma-te. Não podes falar muito agora, descansa. Vais ficar bem. — Disse-lhe dando um copo de água. Em poucos segundos, Maria da Graça adormeceu tranquilamente e não se voltou a falar mais naquele “sonho”.

Duas semanas mais tarde, Maria da Graça teve alta e foi para casa. Mas antes de ir, foi informada de que inexplicavelmente tinha havido um erro no seu diagnóstico. Afinal, ela nunca tinha tido o VIH! Ela estava apenas com uma grave pneumonia!

Maria da Graça, ficou confusa com aquilo. Nem queria acreditar que o seu diagnóstico estava mesmo errado. Ergueu as mãos ao Céu e agradeceu! Deixou as drogas, a noite e conheceu João, que por quem se apaixonou. Os dois casaram e tiveram uma filha, à qual chamaram Lisa. Viveram felizes, até novas provas divinas…

Quanto à nossa heroína, Lisa Miller era de facto um Anjo de Cura que estava em Missão na Terra. Tinha vindo para curar pessoas, dando-lhes uma segunda oportunidade para mudarem de vida. 

Mas… onde ia Lisa Miller todos os domingos?

Mistério… Esse, era o segredo de Lisa Miller!

Cris Henriques